Décimo Terceiro – Teus filhos, são Meus filhos.

2ª parte

Em gratidão por todos os bons e maus momentos vividos, escrevo estas poucas letras, para compartilhar minha singela experiência. Manifesto minha gratidão a Deus, a meus filhos, Ricardo, Patrícia, Michelle, Raquel, Samuel Isabelle e Josué, como também, a minha mãe, Maria Genoveva Santos (in memoriam), pelo companheirismo.

Hoje 28 de Setembro de 2017, retorno a escrever. As publicações anteriores foram escritas nas em 2008.

Mudanças? Muitas!!!!!!

Estou pensativa, e me pergunto: Por onde recomeçar?

Certo dia recebi a visita de uma irmã amiga de fé, orávamos sempre juntas, meus filhos, alguns adolescentes, outros pequenos, outros adultos, muitas vezes nos acompanharam em oração. Disse-me ela assim: Filha Deus manda te dizer que teus filhos, são filhos Dele, repetiu duas vezes com ênfase na informação que meus filhos eram filhos de Deus; e que não faltaria comida, roupa, calçado, nada, Deus cuidaria Deles. Não sabia eu o que viria pela frente. Muito tempo depois, ocorreram os fatos que compartilhei anteriormente. Meu esposo era o provedor, uma filha estava concluindo sua formação em Ciências da economia, era estagiária em uma época que estagiário, era chamado pejorativamente, escraviário. Não tinha regras normativas. A outra filha estava concluindo um curso profissionalizante e trabalhava para arcar com suas despesas, os três menores, um concluíra o ensino médio, e não conseguiu passar no vestibular, a outra adolescente estava cursando o ensino médio e o menor estava no fundamental, eu dona de casa; portanto, o sustento ficava ao cargo do provedor, meu esposo.

Recebia uma aposentadoria pequena, por tempo de serviço como motorista, contudo daria para comer, porém naquela ocasião, toda a renda estava comprometida com as dívidas. Como trabalhava em uma empresa regulamentado com sua carteira assinada e tinha um bom salário, ”para o nosso padrão de vida”, tudo fluía bem, e o seu propósito era tocar seu próprio negócio, no transporte de passageiros. Resumindo a história, após o acidente, com o 13º e tudo que ele recebeu, no Natal, ficaríamos com pouco mais de 100 reais para viver mensalmente. Outro problema, não tínhamos a senha da conta da aposentadoria e o Banco do Brasil, mesmo com o laudo hospitalar, de que ele estava em coma, não me liberava a senha. Ao sair do coma, não tinha memória, o banco não disponibilizava alternativas para a família, mesmo com crianças. A senha da conta corrente, minha filha tinha acesso, pois ajudava o pai nos procedimentos bancários, rastreamos as dívidas e pagamos, somos honestos, mas ficamos sem opções.  A todo momento, familiares nos falavam: Fale se precisar de algo. Não sou de pedir, reparto o que tenho em casa e prossigo, mas a situação era de emergência, portanto pedi; só que emprestado, mas a esposa, saiu com perguntas para um dos meus filhos: Tua mãe está pedindo dinheiro? Meu filho me liga e pergunta: Mãe o que acontece? Respondi: Não estou pedindo dinheiro, é um empréstimo, pois o dinheiro está retido no banco, é a aposentadoria, quando liberar eu devolvo. Depois de conversarmos um pouco, desliguei o telefone e chorei, pensei; meu filho acabou de casar, está cheio de compromissos, sei que não pode me ajudar, a única pessoa da família que poderia é a que eu recorri, mas como são dois em uma casa, ele comunicou a esposa, a atitude dela me deixou constrangida. Contei para minha, mãe ela me falou: Filha vai dar briga, eu te ajudo, tenho economias, e assim foi. Poderia ter esperado mais um pouco, até a memória de meu esposo retornar, tentar resolver os problemas financeiros, este foi o motivo de recorrer pedindo auxílio. Diante das circunstâncias entrei com um pedido de interdição. Meu esposo não assinava o próprio nome, e precisava liberar a aposentadoria e vender a camioneta,  faltava um ano de prestação e era quase toda a aposentadoria, como também seu estado mental era grave, estava em surto psicótico, medicado, com drogas muito forte, impossibilitado de tomar qualquer decisão, e assumir responsabilidades.  Infelizmente não tinha consciência da situação, toda casa, muros, portões eram trancados a cadeados, pois ele tentava fugir e nos ferir, agredir. Segundo a psicóloga, que acompanhou estes primeiros momentos, tínhamos que vigiar pois ele poderia criar outra realidade, outra vida, a partir de sua imaginação e confusão. Sua memória começava a retornar, mas totalmente confusa e parecia loucura, as suas falas. Paguei advogado, que em 15 dias conseguiu encaminhar o processo e finalizar, até porque, era véspera de natal, o período de recesso, teria início e ela usou o argumento de que havia menores em questão.

Verdadeira loucura, meu filho agora, após 66 dias, com diagnóstico de Leucemia. O DPVAT pagou 500,00 reais, até hoje não entendi, como um advogado liga para mim no hospital e fala que meu esposo tinha direito naquele momento a receber 2.000,00 reais e quando levo os documentos formalizando o processo, no escritório da seguradora, recebo esta quantia irrisória. Organizando os gastos, cortando até mesmo coisas básicas, pagamos todas as dívidas. Por isso sou grata e muito a meus filhos, todos parceiros, era um revezamento, pois em casa o pai precisava de acompanhamento 24 horas e o Josué também no hospital. O dinheiro para a passagem era contado, para a comida e tudo o mais.

Certo dia chegou um irmão de fé em minha casa, entregou uma cesta básica para minhas filhas, eu estava no hospital com meu filho, eles visitaram oraram e levaram a cesta, ela lhe falou: Pastor nós temos comida, não precisamos. Ele perguntou: Do que está aí, nada vocês estão em falta? Ela respondeu: Não temos café, mas eu peço amanhã para  minha vó, ele disse: Não peça, fique com a cesta. Quando me contou, minha filha ficou emocionada. Obrigado Pastor Norberto, “in memoriam”, e a suas filhas, família amiga. Foram muitos que nos visitaram e deixavam, 10 reais, 5 reais, grupos 100.00, ou 50,00 reais, estes pequenos valores foram de grande importância, pois ajudaram a pagar o transporte, os remédios e quando meu filho pedia alguma comida eu podia comprar, pois ele não conseguia comer a comida do hospital, verdadeiramente Deus é o pai de meus filhos e não deixou passar fome.

Vendi a VAN, juntamente com o serviço, pois estava agregada a um Resort, na capital em uma de suas praias. Um  proprietário de outro veículo, que também prestava serviço no local, fez uma proposta a qual aceitamos. Foi triste, vendi por 25.000,00 reais, sendo 20.000,00 à vista e 5.000, em 60 dias. Faltava menos de um ano para quita-la, meu esposo havia a reformado, 4 pneus novinhos e de boa qualidade, enfim depois de tudo pronto, as intempéries me levam a tomar esta decisão. Este é o ponto fundamental, todas as decisões estavam sobre minha responsabilidade e eram muitas ao mesmo tempo, não sei se errei, mas sempre pedi auxílio, a Deus para me guiar. Com esse valor, paguei médicos especialistas para meu esposo, pois não tínhamos plano de saúde e a consulta agendada pelo hospital seria somente dali a 60 dias. Um neurologista particular nos orientou, uma psicóloga nos explicava, que a parte cognitiva estava toda prejudicada, mas a mecânica não. Como exemplo ela usou o trocar uma lâmpada, que precisa de planejamento, já o dirigir era para ele mecânico. Para auxilia-lo neste processo toda a família sofreu, pois tínhamos que orientar, porque seu campo de percepção ficou restrito, foi difícil.

Depois que meu filho recebeu alta, da 1ª internação de longos 44 dias, imediatamente comprei um veículo para mim dirigir e transporta-lo para as consultas que eram constantes. Foi um excelente investimento, pois com todas as suas dificuldades um coletivo seria inviável, o carro atenuava seu desconforto, pois ele dormia durante o percurso, caso contrário, estaria vomitando. Com a compra deste carro nas situações de emergência não precisava mais recorrer a ninguém, mesmo com boa vontade por parte da família, eu não queria ser um fardo, pois com o tempo, é desgastante, você tirar o outro de sua zona de conforto, com o auxílio de Deus, nos resolvemos. Durante um ano meu filho tinha somente uma calça, um tênis, uma sandália, e algumas poucas bermudas, mas naquele momento o objetivo era lutar. Não recebemos nenhum tipo de auxílio doença, até o passe que ele tinha direito quando internado, peguei somente uma vez, porque em outra ocasião, a assistente relatou estar em falta, não retornei, pois parecia uma esmola.

Uma coisa importante durante o tratamento, procurar deixa-lo calmo e feliz. Não força-lo, mas estimula-lo, respeitar os seus limites, que eram muitos.

Próximo ao dia da alta ele queria retornar à escola, vários professores foram visita-lo no hospital, sua professora Sandra, do 3º e 4º ano, chorou comigo. Ele disse: Eu quero meu material, daquela marca que tem carrinhos e falou o nome. O que lhe respondi: É caro filho, não posso comprar, mas peça para Deus.

Recebemos alta do hospital, após 44 dias de internação, mas voltava constantemente para as aplicações de quimioterapia, exames vários procedimentos e consultas. Paralelamente as aulas já haviam começado, ele precisava se fortalecer um pouco para retornar, naquela semana chega uma irmã de fé, amiga, para visitar, mas estávamos saindo para o hospital, ela nos abraça e entrega 300,00, de presente para o Josué. Depois do procedimento, falo para ele: Deus te deu o material, vamos comprar? Ele feliz, exclama: Sim! Meu filho, Magérrimo, com o corpo todo manchado com manchas como escoriações negras, marrons, careca, cor esverdeada, olhos envoltos em olheiras profundas, um balde nas mãos para colher o vômito, totalmente fragilizado; assim entramos na livraria mais próxima de casa, e fomos muito bem recebidos e amparados. Proprietária, funcionária e cliente presente na loja, não nos constrangeram, ao contrário ofereceram conforto, acento para ele e esperava passar as crises de enjoo e vômito para retornar a escolher o seu material, que ele queria escolher. No dia que ele entrou na sala de aula, do pátio eu ouvi os aplausos e gritos dos colegas de classe, que o receberam com brados de alegria, de tal forma que os professores não conseguiam conter, me emocionei. A escola trabalhou com a classe o que era leucemia.

Aqueles amigos de classe, estavam juntos, a quatro anos, compreenderam ele, mas ele os perdeu, pois as muitas internações e sua fragilidade durante o tratamento, somados as suas necessidades especiais já existentes, inviabilizaram sua frequência, a escola era particular, não disponibilizou suporte, mas deu uma bolsa total.

Eu havia feito a transferência dele no final do ano anterior, para uma escola pública em vista dos problemas financeiros e quando professores amigos e supervisora o visitaram no hospital tomaram conhecimento do caso, intercederam junto à escola, que nos ofereceu uma bolsa integral. Ele foi poucas vezes a escola aquele ano, não foi considerado reprovação, ficou como se não houvesse frequentado as aulas. Fim de ano chorou muito porque rodou, eu lhe disse: Você não reprovou, estavas doente e não foi possível ir as aulas, és um guerreiro, um vencedor.

Porque compartilho estes momentos? Para reafirmar que Deus é Pai Soberano. Foram muitas as situações difíceis vividas. Deus prometeu que não faltaria calçado, roupa e comida, cumpriu. Como está escrito: Tendo, porém, sustento, e com que nos cobrirmos, estejamos com isso contentes. I Tim. 6.8.

Encerro com a oração do Pai nosso, destacando o versículo 11; O pão nosso de cada dia nos dá hoje;

 

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