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Sexto – A carta não enviada

A CARTA NÃO ENVIADA

Saudações,
Em meados de 2006 eu passei a coletar os nomes e endereços de cada matriculada dos grupos de oração dos quais eu tinha a responsabilidade de supervisionar, para lhes enviar uma carta no final do ano, mas o meu projeto não pôde se concretizar, pois naquela ocasião eu fui agraciada pela parte de Deus, com uma prova que se estende até os dias atuais. Em decorrência de tal situação não foi possível dirigir-me a você como desejava. Hoje, fevereiro de 2008, depois de passado um ano, três meses e onze dias, escrevo esta missiva para enviar a cada uma das minhas amadas irmãs em Cristo:

Eu desejo que tudo esteja bem com você e sua família e que as bênçãos de Deus, não lhe falte em momento algum. Quero agradecer as orações feitas por mim e pela minha família, relatando as vitórias já alcançadas. A promessa de Deus me tem sustentado e eu te digo, jamais duvidei do grande amor do Pai, pois até aqui me ajudou o Senhor. Você lembra que meu esposo sofreu aquele terrível acidente, após se acordar do coma, voltou a si sem nenhuma memória, gradualmente começou a recordar. Primeiro passou a reconhecer-se, pois não sabia quem ele era; depois aos companheiros de trabalho, sua mãe e minha mãe; não me conhecia, nem aos filhos e netos. Toda a sua memória estava comprometida. Veio para casa como uma criança e teve de aprender desde os primeiros passos, até pentear os cabelos com muito custo.

Não dormia nem tinha consciência da situação, entrou em surto psicótico e a situação   agravou, após um mês de alta começou a acalmar, os filhos todos os dias tinham que se apresentar e nós fazíamos revezamento para poder cuidar dele. Começou com as orações, medicação e lentamente recobrava seu entendimento; neste processo, todos se envolviam cuidando dele. Paralelamente eu via meu filho caçula com treze anos empalidecer, perder o apetite e não ter mais vontade de brincar, começou isolando-se, também percebi algumas manchas roxas aparecerem gradualmente em seu corpo, quando eu perguntei, onde ele havia batido, não se lembrava, toquei a mancha e ele disse não doer, estranhei. Passaram-se alguns dias e notei mais uma, dias depois, três manchas e a fraqueza só aumentava. Quando constatei estes sinais imediatamente em casa suspeitei do que se tratava e ainda falei para os seus irmãos quando implicavam com ele porque não queria se alimentar e eu levava o alimento quase forçado e não adiantava pois não conseguia comer.

Era sábado, treze de janeiro de dois mil e sete, após 66 dias do acidente de meu esposo, interno meu filho com suspeita de Leucemia.

Dia quinze confirmada a leucemia, dia dezessete a tipagem, LMA M3, uma das mais mortais e também a de mais fácil cura. Este foi o diagnóstico da médica Dra. Denise, oncologista do setor de ONCO HEMATOLOGIA do hospital Joana de Gusmão em Florianópolis, finalizando o seu parecer ela me informa: Seu filho pode falecer a qualquer momento.

Novamente o socorro das orações e a introdução das medicações. No oitavo dia de internação Deus fala com meu filho e eu entendi que ele não morreria naquele momento. Conclusão: No dia 15 de janeiro, meu filho tinha 99% de células cancerosas em sua medula óssea; porém, no dia quinze de fevereiro já recebo o resultado do segundo exame de mielograma, realizado após o tratamento de quimioterapia: 0,04% das mesmas células. VITÓRIA.

Hoje meu filho continua o tratamento, pois é necessário, não é falta de fé é ter consciência da realidade e lidar com ela da melhor maneira possível, conhecendo os meus deveres e minhas responsabilidades como mãe diante de meu filho e de toda a sociedade. Creio que quando falo da cura de meu filho esta é a maior dificuldade das pessoas crerem, porque para muitos os milagres se resumem apenas em um estralar de dedos, instantâneo. Se assim fosse, Deus não permitira que toda uma equipe médica estivesse em torno do meu caçula. Em nenhum momento me foi requerido por parte de Deus suspender tal tratamento, ao contrário, a cada passo do mesmo, juntamente com os médicos, podíamos  regozijar das conquistas, pois não somente a Leucemia é responsável em si pelos óbitos, mas todo o tratamento por ser extremamente agressivo tendo alguns não resistido, seja enfartando  ou contraindo algum tipo de infecção através deste procedimento. Meu filho sendo um adolescente e seu pai na ocasião estar sem condições de responder pelo filho ou por si mesmo, assim todas as responsabilidades e decisões cabiam a mim e optei por ser consciente, estar com os pés no chão sabendo o que estava enfrentando e em nenhum momento desfalecer da fé com inteligência.

Meu esposo ainda se recupera, com sequelas psiquiátricas, mas eu te digo quando Deus está no controle não devemos nos desesperar.

Fico meditando e agradecendo a Deus o tempo em que meus filhos eram pequeninos, e eu caminhava aproximadamente quarenta e cinco minutos para chegar a igreja e levava um no colo, outro segurando pelas mãos, outro me segurava a saia e cantando o corinho, “Caminhando vou para Canaã”, percorríamos o caminho alegres. Hoje estes filhos, moços, jovens, fortes e valentes ajudam-me na jornada e continuam cantando. Valeu a pena os sacrifícios e as dificuldades que até aqui foram ficando para traz, sendo vencidos.

Em primeiro de dezembro de dois mil e sete, Josué, meu filho mais novo, desce às águas batismais. Que grande vitória, mãe de sete filhos e todos levados às águas do batismo fazendo sua decisão pessoal por Cristo.

Eu posso falar que sou uma mulher feliz, porque em primeiro lugar tenho paz com Deus, pois posso chegar com confiança, todos os dias ao trono da graça.

Segundo, tenho paz comigo mesma, quando deito na cama, minha consciência faz-me repousar em paz, confiada que estou bem guardada, pelo amor do Deus todo poderoso em quem eu confio.

Terceiro, tenho paz com meus irmãos, sejam eles em Cristo, sejam como criaturas criadas à imagem e semelhança de Deus, posso te abraçar e a todos com alegria na alma.

Em quarto, não odeio os que me odeiam ou caluniam, estou segura em Deus.

A felicidade verdadeira somente se realizará quando da nossa chegada às mansões celestiais. Aqui teremos lutas, dores, desilusões, etc. Quando finalmente dormir nos braços do Senhor, acordaremos para a real felicidade e descanso eterno. Aqui a nossa alegria é conhecer e obedecer a Deus, ter o seu temor guardado no coração e prosseguir, sabendo que os dias são de muita dificuldade para todos nesta terra, mas que nós temos a mais sublime esperança de que um dia o veremos e seremos por Ele consolados de todas as agruras desta vida. Não te espantes das provas e dores, mas confia sempre nas promessas de Deus, porque Ele não vê como eu ou você, Deus vê muito além e por este motivo o melhor é crer e esperar, não sendo levados por todos os ventos de conversas sabendo que assim como foi com o Rei Davi, Salomão, Samuel, Ele foi com Jó nas suas provas, da mesma maneira ele foi com o pobre mendigo, Lázaro. Ele cuida de todos os pobres da terra, que não ficam olhando tão somente para as suas dificuldades, olham para Deus o seu real socorro. Assim como foi com Pedro, Ele foi com os santos, que tiveram as suas vidas arrancadas nas arenas, sendo dilacerados pelas feras, queimados morreram em tormentos, mas não negaram a fé.

Siga firme amada, proclame a verdade, não desanime, mesmo quando parecer que tudo está perdido eu te digo, levante a cabeça, creia mais um pouco e tu verás a tua vitória e a tua luz brilhará como o sol da justiça, resplandecerá como o meio dia.  (Salmo 37.6; Prov.4.18)

Viva com Deus e seja feliz, a felicidade verdadeira que ninguém pode dar aqui nesta terra, podemos desfrutar antecipadamente pequenas porções através do imensurável poder divino. A paz seja contigo.

Como gostaria de ter enviado esta carta, mas não foi possível. Assim, escrevo neste pequeno relato, com muito carinho e, quem sabe, talvez algumas daquelas irmãs lerão algum dia.

Este post tem um comentário

  1. Patrícia Mattos da Silva

    Obrigada Deus pela mãe que tu me deste. Espero um dia poder dizer como você, combati o bom combate, acabei a carreira, guardei a fé. Até breve ❤

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